Por volta da 1:00h já estávamos na
emergência da maternidade e, como só havia uma outra futura mamãe na espera,
rapidamente minha esposa foi atendida.
Muito gentil e simpática, a
enfermeira começou a fazer os exames de toque e de cardiotocografia, sendo este
último para medir as contrações, e deixou a maquininha trabalhando, emitindo em
ritmo preguiçoso o papel com aqueles picos e vales característicos que logo
responderiam se de fato havia chegado a hora.
- Sua bolsa está no limite, hein? –
disse a enfermeira enquanto procedia com o exame de toque, fazendo uma careta
enchendo as bochechas de ar.
- Vamos fazer o parto agora? – perguntou
minha esposa, que apesar de todas as dores, manteve-se serena e sorridente
durante esse tempo todo.
- A dilatação está com apenas um dedo
(a recomendação para o parto normal fica entre 8 e 10 dedos). Você quer fazer
parto normal?
- Não, parto normal não. Inclusive já
tínhamos até marcado para o dia 21 a cesariana aqui mesmo.
- É mesmo? Olha, sinceramente não sei
se sua princesinha irá aguentar esperar este tempo todo – prosseguiu a simpática
enfermeira.
- Pois é, parece que vai ser mais
ansiosa que a mãe – comentei despretensiosamente para disfarçar a tensão.
- Vamos aguardar o término do exame e
ligar para o médico, mas acho que chegou a hora – concluiu a enfermeira em tom
profético.
Era 2:00h quando o exame acabou e a enfermeira
terminou de falar com o médico ao telefone.
- E aí? – perguntei antes mesmo que
ela colocasse o telefone no gancho.
- Acho que ele quer dormir mais um
pouco – disse ela, rindo.
- Como assim? – indaguei sem entender
nada.
- Ele pediu para colocar sua esposa
no soro com buscopan para ver se as dores desaparecem, e logo em seguida fazer
novamente outra cardiotocografia para ver se o ritmo das contrações também
diminui.
- Mas o parto será feito hoje ou não?
Há risco de mandá-la de volta para casa caso as dores desapareçam?
- Sim, principalmente se o ritmo das
contrações diminuir, mas acho improvável, pois as contrações estão fortes.
Acompanhei minha esposa e a
enfermeira para a sala onde seria injetado o buscopan e, ao passar pelo saguão,
minha sogra surgiu aflita.
- Vai aonde minha filha? Para sala de
parto?
- Não, mãe, vou apenas para a outra
sala para tomar uma dose de buscopan.
- O parto será feito em seguida?
- Ainda não sabemos – respondi.
- Como assim? Ela está em trabalho de
parto e precisa ser operada urgente – retrucou com a voz tensa.
- Calma, vamos fazer o que médico
pediu. Após a injeção, será feito um novo exame e aí ligaremos novamente para o
médico. Dependendo do resultado, poderemos até voltar para casa.
- Não vamos voltar não, ela precisa
ser operada já – retrucou ainda mais nervosa.
- Calma. Quem vai nos dizer o que
será feito é o médico, e por hora só nos resta aguardar, ok? – falei em tom
calmo, olhando nos olhos dela e segurando sua mão para tranquilizá-la.
- Ok, meu filho – deu-se por vencida
e, com um ar cansado, foi sentar-se na poltrona da recepção.
Quando minha esposa entrou na sala, a
enfermeira me dispensou dizendo que ali não eram permitidos acompanhantes.
- A propósito, quanto tempo vai
demorar este procedimento? – fiz a última pergunta.
- Cerca de duas horas.
Instintivamente olhei para o relógio
da parede, que já marcava 2:15h, respirei fundo e fui me acomodar na poltrona
ao lado da minha sogra.
- Definitivamente, a noite vai ser
longa – disse para a minha sogra, que a essa altura do campeonato já tirava um
pequeno cochilo.
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