sexta-feira, 30 de agosto de 2013

O início, o fim e o meio - Parte II

Em pouco menos de 15 minutos já estávamos eu, minha esposa, minha sogra e as malas dentro do carro, prontos para partir. Como a madrugada de domingo mal havia começado, não foi difícil chegar rapidamente na Pro Matre – o que foi uma verdadeira benção. Afinal de contas, se com nenhum trânsito já ficava tenso cada vez que minha esposa dava um gemido por cauda das dores que sentia, percorri todo o caminho imaginando as centenas de histórias de pais desesperados ao volante, presos nos engarrafamentos da vida, em algum horário de pico qualquer com as esposas em trabalho de parto, comemorando como se fosse um gol em final de campeonato a cada sinal verde que passava.

Por volta da 1:00h já estávamos na emergência da maternidade e, como só havia uma outra futura mamãe na espera, rapidamente minha esposa foi atendida.

Muito gentil e simpática, a enfermeira começou a fazer os exames de toque e de cardiotocografia, sendo este último para medir as contrações, e deixou a maquininha trabalhando, emitindo em ritmo preguiçoso o papel com aqueles picos e vales característicos que logo responderiam se de fato havia chegado a hora.

- Sua bolsa está no limite, hein? – disse a enfermeira enquanto procedia com o exame de toque, fazendo uma careta enchendo as bochechas de ar.
- Vamos fazer o parto agora? – perguntou minha esposa, que apesar de todas as dores, manteve-se serena e sorridente durante esse tempo todo.
- A dilatação está com apenas um dedo (a recomendação para o parto normal fica entre 8 e 10 dedos). Você quer fazer parto normal?
- Não, parto normal não. Inclusive já tínhamos até marcado para o dia 21 a cesariana aqui mesmo.
- É mesmo? Olha, sinceramente não sei se sua princesinha irá aguentar esperar este tempo todo – prosseguiu a simpática enfermeira.
- Pois é, parece que vai ser mais ansiosa que a mãe – comentei despretensiosamente para disfarçar a tensão.
- Vamos aguardar o término do exame e ligar para o médico, mas acho que chegou a hora – concluiu a enfermeira em tom profético.

Era 2:00h quando o exame acabou e a enfermeira terminou de falar com o médico ao telefone.

- E aí? – perguntei antes mesmo que ela colocasse o telefone no gancho.
- Acho que ele quer dormir mais um pouco – disse ela, rindo.
- Como assim? – indaguei sem entender nada.
- Ele pediu para colocar sua esposa no soro com buscopan para ver se as dores desaparecem, e logo em seguida fazer novamente outra cardiotocografia para ver se o ritmo das contrações também diminui.
- Mas o parto será feito hoje ou não? Há risco de mandá-la de volta para casa caso as dores desapareçam?
- Sim, principalmente se o ritmo das contrações diminuir, mas acho improvável, pois as contrações estão fortes.

Acompanhei minha esposa e a enfermeira para a sala onde seria injetado o buscopan e, ao passar pelo saguão, minha sogra surgiu aflita.

- Vai aonde minha filha? Para sala de parto?
- Não, mãe, vou apenas para a outra sala para tomar uma dose de buscopan.
- O parto será feito em seguida?
- Ainda não sabemos – respondi.
- Como assim? Ela está em trabalho de parto e precisa ser operada urgente – retrucou com a voz tensa.
- Calma, vamos fazer o que médico pediu. Após a injeção, será feito um novo exame e aí ligaremos novamente para o médico. Dependendo do resultado, poderemos até voltar para casa.
- Não vamos voltar não, ela precisa ser operada já – retrucou ainda mais nervosa.
- Calma. Quem vai nos dizer o que será feito é o médico, e por hora só nos resta aguardar, ok? – falei em tom calmo, olhando nos olhos dela e segurando sua mão para tranquilizá-la.
- Ok, meu filho – deu-se por vencida e, com um ar cansado, foi sentar-se na poltrona da recepção.

Quando minha esposa entrou na sala, a enfermeira me dispensou dizendo que ali não eram permitidos acompanhantes.

- A propósito, quanto tempo vai demorar este procedimento? – fiz a última pergunta.
- Cerca de duas horas.

Instintivamente olhei para o relógio da parede, que já marcava 2:15h, respirei fundo e fui me acomodar na poltrona ao lado da minha sogra.

- Definitivamente, a noite vai ser longa – disse para a minha sogra, que a essa altura do campeonato já tirava um pequeno cochilo.


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